A internet é realmente um território de ninguém. Na verdade ele é um território de todo mundo. E eu pude sentir essa liberdade gozada por todos, vir como uma paulada na cabeça, nesse começo de noite quente, com um linda lua sorridente pairando sobre o céu de azul intenso.
E por que estou cheio de mimimi sobre a internet? Justo eu que fico o dia todo, todo dia, conectado a essa rede de infindas possibilidades, hoje reclamo tanto dela?
Sim... Tive um baque muito grande. Um murro no meio do estômago vindo de uma desconhecida e que me desestruturou a ponto de me inspirar a escrever um novo texto. Talvez como forma de expurgar essa sensação estranha que estou sentindo, um misto de tristeza e revolta, que preciso por pra fora. Tomara que pelo menos o texto seja legível.
"Mas o que aconteceu?", perguntam os meus milhares e milhares (risos) de leitores! Calma, eu explico.
Tudo começou quando o site "A Olga" divulgou uma pesquisa mega interessante sobre assédio moral/sexual sofrido pelas mulheres. E dentre as terríveis constatações da pesquisa está que 99,6% das mulheres que foram entrevistadas já foram vítimas de alguma forma de assédio. Para ler a pesquisa completa, é só clicar aqui. ;)
Pois bem, e eis que o link foi publicado em um perfil do facebook e eu, que fiquei chocado com os depoimentos que constam na pesquisa, fiquei particularmente enojado com o caso abaixo:
"Ouvi um cara começar a me chamar de gostosa na rua e ignorei. De repente, o cara veio se chegando pro meu lado no ponto de ônibus, com o pau pra fora, batendo uma punheta pra mim, me chamando de gostosa. Entrei no primeiro ônibus que encostou, nem vi para onde ia, só pra fugir do safado. Quando cheguei em casa chorando, minha mãe perguntou o que tinha acontecido. Depois que contei, ela perguntou: 'E o que você fez pra provocar o homem, ele não colocou o pau pra fora à toa'. Depois disso, nunca mais contei nenhum episódio de assédio, abuso ou qualquer outra coisa pessoal que aconteceu comigo."
E eis que, eu revoltado e com minha ingenuidade de bom moço (às vezes eu sou um bom moço, eu juro!), comentei que a tal mãe do depoimento acima citado havia sido insensível com a filha que estava fragilizada por conta da violência que acabara de sofrer.
E a guerra foi declarada! Esse foi o estopim para a estranha, desconhecida gritar na minha cara: MACHISTA!
Aê Emicida! Tamo junto no machismo! |
Machista, eu? Jura? E ela continuou: além de machista, eu era um grande opressor do pensamento alheio e que me acho superior às mulheres e que eu não havia sido criado para sentir culpa, como as mulheres.
E a mulher (e outras, que depois também entraram na conversa), começou a utilizar termos e fazer acusações muito pesadas para mim. "A mãe, mulher, não é culpada de nada nesse caso. Culpado é você, por ser homem e que mata e estupra incondicionalmente" foi uma das coisas que li, dirigidas diretamente a mim.
Poxa, como uma pessoa que não sabe absolutamente nada de mim, a não ser meu nome, ver uma foto de perfil de rede social, e algumas pouquíssimas frases proferidas na superficialidade do facebook pode colocar no dedo na minha cara e gritar: ASSASSINO! ESTUPRADOR!?
Achei ofensivo, acho que ela deveria apagar.
Achei ofensivo, acho que ela deveria apagar.
"É muito fácil culpar uma mulher numa matéria sobre assédio. A culpa não é dela, é sua..." disse uma das mulheres para mim.
Ora, eu não não estava defendendo o cara nojento do ponto de ônibus. Muito menos estava culpando a vítima. Sequer estava acusando a tal mãe de machista, ou de péssima mãe, ou de qualquer outra coisa. Nem entrei na discussão de gênero. Pensei exclusivamente na insensibilidade de um humano para com outro humano.
Ora, eu não não estava defendendo o cara nojento do ponto de ônibus. Muito menos estava culpando a vítima. Sequer estava acusando a tal mãe de machista, ou de péssima mãe, ou de qualquer outra coisa. Nem entrei na discussão de gênero. Pensei exclusivamente na insensibilidade de um humano para com outro humano.
E cá estou eu, me sentindo a pior das criaturas do mundo. E vendo como as vezes a humanidade esquece que é humana. E se veste com a máscara da coragem na internet, e se acha no direito de julgar, ofender, criticar e magoar as pessoas que nunca virão nem irão ver na vida. Mas é sempre válido lembrar que atrás daquela fotinho tem uma pessoa de verdade, que tem sentimentos.
E Oyá, senhora da minha cabeça, sabe que o coração é bonzinho. |
As pessoas próximas sabem da minha índole, do meu caráter e do meu carinho pelas mulheres (e pelos homens também). Eu respeito as pessoas, independente do que elas tem no meio das pernas!
Mas nesse processo todo, me lembrei muito de uma música do Chico César (que nem sei porque lembrei) mas que me reconfortou nessa grande surpresa que se (a)bateu sobre mim: "Será deus ou deusa? Que sexo terás? Mostra teu dedo, tua língua, tua face. Deus dos sem deuses..."