terça-feira, 9 de julho de 2013

O caso do "Boy Magia"

Eu e minha polêmica camiseta
Hoje, pela primeira vez, usei minha nova camiseta, com a estampa "Boy Magia". E confesso que foi uma experiência bem interessante.

Primeiro, é preciso dizer que tem que ter muito carão pra usar a tal camiseta, afinal, usar "Boy Magia" estampado no peito, é o mesmo que dizer: "Olá! Tudo bem? Eu sou viado!". E isso vai trazer algumas consequências.

A reação das pessoas é a mais divertida delas. Elas aconteceram aos montes e das mais diversas formas possíveis. 

A primeira delas (e que foi a maioria) são os sorrisos constrangidos e as risadinhas veladas. Até aí tudo bem. É o preconceito nosso de cada dia mostrando sua face oculta. Que apesar de ter sido demonstrado de alguma forma, continua velado sob a máscara da tolerância.

Depois, que também foi em grande quantidade, foi a de grandes sorrisos e risadas cúmplices, de outros garotos gays que adoraram a camiseta (talvez mais como simples objeto fashion do que pela carga social e política que ela pode representar). Nesse meio também vieram as numerosas e bem-humoradas cantadas. Algumas simples e descontraídas como "Nossa, imagina esse boy magia lá em casa..." até outras mais ousadas que nem ouso reproduzir nesse espaço...

Mas entre mortos e feridos, as piores reações foram as que revelaram extremo preconceito. E ele veio de todos os lados, até mesmo de quem eu, particularmente, dentro da minha cabecinha ingênua, não esperava. 

Primeiro vieram os preconceitos básicos, dos manos do Bixiga gritando "Lá vai o viado!". Mas até aí tudo bem, afinal não foi a primeira vez nem será a última que vou ouvir isso dos manos do Bixiga. Depois vieram os "Lá vai o viado" dos garotos cultos e educados de Pinheiros, que falavam isso enquanto esperavam de mãos dadas com suas namoradas super maquiadas na imensa fila de espera da abertura da loja da Sephora instalada no shopping Eldorado. 

Depois,mais olhares tortos, de desprezo, alguns até de nojo. E também as caras de interrogação dos senhorzinhos e senhorinhas que deixavam claro que não faziam ideia do que significa "Boy Magia".

Mas o que mais me assuntou (to falando que sou ingênuo), foi o preconceito que eu senti de outros gays. Os fashionistas, ratos de shopping que acharam um absurdo EU estar usando a fatídiga camiseta. E não se controlavam em fazer seus comentários maldosos, em alto e bom som para que eu ouvisse suas opiniões (tão carregadas de preconceito). #Chatiado! (só que não...)

Eles não perceberam a ironia da minha belíssima peça de roupa. Além de ser uma camiseta que eu achei muito bacana (fiquei radiante quando fiz essa peça), ela é, pra mim, muito mais que uma peça de vestuário. 
Primeiro, ela é uma reafirmação de uma identidade de gênero. Ela é sim o "Olá! Tudo bem? Eu sou viado" que mencionei lá no primeiro parágrafo. E isso é uma postura ideológica de quem vive num país em que ainda se discute a possibilidade de "curar" gays. Isso é um ponto que não foi compreendido.

Mas também tem outro ponto. Essa camiseta é, para mim pelo menos, uma forma irônica de ver a homossexualidade dos dias de hoje, em que os pensamentos e estética são padronizados. Os grupos (mesmo dentro de grupos) devem ser mantidos e respeitados. Não se pode romper fronteiras invisiveis - mas muito nítidas - do que a sociedade espera de você. Cada um no seu quadrado, como diria uma grande canção que foi moda tempos atrás.

Afinal, eu, um quase ex-garoto (ora, eu já tenho 30 anos!), pançudinho, descabelado,com a barba toda descuidada, sem grandes pretensões de ser um ícone fashion ou ser altamente desejável pelo próximo, não poderia ostentar o termo "Boy Magia" no peito. Eu sou justamente o contrário do que se espera desse do seleto grupo de "Boys Magia".

O Ken sim, poderia usar uma camiseta escrito "Boy Magia"
E como disse, não tenho pretensões de ser da moda. Não espero ser aceito por grupos, que pra mim, na verdade e sendo bem sincero, não dizem absolutamente nada. Mas confesso que foi interessante como o preconceito corrói com seus dentes podres as mais variadas almas da sociedade. Até mesmo daquelas que são tão vítimas dessa mesma arcada dentária.

Mas, no final das contas, o que realmente importa é que continuarei a usar minha linda camiseta, mesmo que tenha que ouvir os gritos de "Joga pedra na Geni! Joga bosta na Geni!" pelo meu caminho. E também que meu passeio pelo shopping Eldorado, nessa tarde fria e chuvosa de feriado me proporcionou um almoço gostosinho, algumas compras e muitas reflexões. 

2 comentários:

  1. Oi Felipe! Adorei suas observações!
    Principalmente por ser praticamente impossível para uma pessoa desligada como eu retirar tantas conclusões perspicazes de um simples passeio com uma nova aquisição...
    Isso me fez refletir e sair um pouco do meu mundinho...
    E por isso... Muito obrigado!

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    1. Oi Fábio!
      Poxa, obrigado pelo seu comentário! Fiquei muito feliz que você tenha lido o blog e refletido também com meus vagos pensamentos!
      E eu que agradeço mesmo!
      Abraço!!

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