sábado, 6 de abril de 2013

A espetacularização do cotidiano


Ontem, precisei passar por um pequeno procedimento cirúrgico. O último dente do siso finalmente foi extraído. O mal foi retirado (literalmente) pela raiz. E agora cá estou eu, sem poder fazer nada, sem poder comer direito, sentindo vontade de comer tudo, de ovo frito a beterraba. De comida japonesa a ovo de páscoa. E sentindo dor. Muita dor.

Certamente, meu dente não era
simpático como esse...
Mas a exposição de meu momento, nessas linhas acima, aconteceu por outro motivo.

Ontem, ao sair do dentista, ainda flutuando por conta da anestesia, me sentindo o garotinho daquele vídeo viral, e "o pedaço arrancado de mim" no bolso da minha calça, não via o momento de fotografar meu belo dente para postar em minhas redes sociais. Graças ao deus do bom senso, naquele momento desisti dessa ideia mórbida.

Mas a questão que veio a minha cabeça foi: Por que, nesses momentos de velocidade da informação, temos essa necessidade de expor nossa vida em todos os canais de comunicação que temos. E são muitos.

Vivemos um momento, meio assustador até, em que somos obrigados a fazer parte desse mundo virtual. Precisamos nos sentir incluídos nesses meios modernos.

E para isso, expomos o que temos para mostrar, ou seja, o que vivemos em nosso cotidiano. E dá-lhe fotos de comida, de ônibus cheios, roupas novas, e até, vejam só, um dente extraído. E não para por aí! Também somos brindados com desabafos sobre os colegas mal humorados de trabalho, inícios e fins de relacionamentos, bebês que estão por vir, bebês que já chegaram e toda a sorte de eventos cotidianos que todos nós, um momento ou outro também vivenciamos. Direta ou indiretamente.

Mas o que eu realmente me pergunto é se temos verdadeira audiência para todas as coisas de nossas vidas que NÓS achamos incríveis? Eu achei muito legal ver meu dente ainda sujinho de sangue. Mas a centena de amigos que tenho no facebook queriam ver tal parte do meu corpo? Ainda mais pensando que de todos esses amigos, se eu conheço efetivamente um terço é muito. Por que precisamos expor nossas vidas para pessoas que nem conhecemos de fato?

Pratos de comida: O maior hit das redes sociais

Também não sei a resposta, e provavelmente não vou parar de me expor também... Mas vou tentar mostrar só coisas que possam ser interessantes para pelo menos duas pessoas, além de mim. Acho que pode ser mais bacana se for compartilhado por mais alguém além de mim mesmo. A Egotrip pode ser ligeramente menor.

Obs: Escrevi esse texto enquanto assistia "Chegou Honey Boo Boo", o exemplo mais bizarro e exagerado de exposição da intimidade

sexta-feira, 5 de abril de 2013

O trabalho doméstico e a sombra cultural da escravidão

O trabalho doméstico mantem resquícios escravocratas 

No texto anterior, quando escrevi sobre o “caso Joelma”, comentei sobre o espírito elitista que paira sobre nosso país. Ontem, voltei a pensar em tal assunto, quando no meio de uma conversa durante o almoço, o assunto sobre a PEC das domésticas entrou na roda. E pude perceber que esse espírito se revela maior e mais forte em nossa sociedade, e carregado de heranças escravocratas (eu sei que o termo é forte, mas nesse caso não tenho como utilizar outro).

Porque só essa mentalidade antiga e ultrapassada para explicar que uma sociedade acredite que nós, os membros da classe média/alta culta e esclarecida, é digna demais para executar certas tarefas. Que atividades domesticas são para subalternos inferiores, que nosso belo corpinho deve ser usado para coisas mais elevadas do que fazer faxina.E mais, que existam inúmeros dessas pessoas inferiores, que são designadas por Deus, ou pela sociedade, para realizar tais tarefas e ainda estar a nossa plena disposição para nos servir. E, por fim, achar natural pagarmos muito pouco (ou quase nada) para essas pessoas que deixam de lado suas vidas pessoais, desejos e vontades, para estar à disposição dos mandos e desmandos dos "superiores".

No meio do turbilhão, os elitizados, finos, chiques e refinados se deparam com o absurdo de o governo tomar medidas para que os trabalhadores domésticos tenham os mesmo direitos que todos os outros tipos trabalhadores. Indignação no ar! Meios e tentativas de tentar burlar o sistema e não pagar todos os direitos garantidos por lei. Afinal, o Brasil é o país do jeitinho! Somos treinados a tentar enganar os sistemas, mas somos incapazes de varrer um tapete. Só pensamos em como esconder nossas sujeiras debaixo dele.

Mas esse pensamento é meramente uma questão cultural. Eu sou um exemplo disso!

No período de minha pós-infância, pré-adolescência, mesmo quando as vacas de casa eram mais gordinhas, nunca tivemos empregada. E mais: eu sabia que às segundas feiras, minha função ao levantar era tirar o pó e passar aspirador na sala, no meu quarto e no quarto dos meus pais. Enquanto isso, minha mãe se ocupava em lavar as roupas de nós quatro. Após ter minhas tarefas realizadas, tomava banho, almoçava, a tarde ia pra escola, e fazia todas as coisas que toda pessoa de 12, 13 anos faz. O mesmo acontecia com minha irmã, que também tinha suas tarefa no horário inverso ao que estudava. Nessa época também aprendi a cozinhar, a pregar botão, costurar... Nunca me senti menos homem ou inferior a ninguém por realizar tais tarefas. E minha mãe (minha grande heroína) não teve a inciativa de incentivar a gente a fazer tais serviços apenas para diminuir sua carga de trabalho de dona de casa. Ela estava tentando criar pessoas melhores. E acho que ela conseguiu.

A imagem de Debret ainda se reflete nas casas brasileiras do século XXI
Anos mais tarde, aos 20 anos, quando fui morar sozinho definitivamente, com a verba mais curta todo mês, era natural a tendência de eu mesmo limpar a casa onde morava, cozinhar minha própria comida e remendar minhas próprias roupas.

Hoje, depois de constituída uma nova família, numa casa com dois homens adultos, também não temos doméstica. E não me sinto menos digno ou inferior por passar um pano no chão ou por esfregar uma privada.Privada aliás que onde eu mesmo mijo.  Me sentiria menos digno se ficasse no twitter fazendo piadas sem graça com a Daniela Mercury (um beijo, Rafinha Bastos!).

E principalmente: comemoro quando são aprovadas leis que tornam a sociedade um pouquinho mais igualitária... As conquistas de alguns é sim, a conquista de todos!

Joelma e a revelação dos preconceitos

Joelma: Muitos preconceitos revelados
Às vezes eu me esforço para crer no futuro da humanidade, na compaixão entre as pessoas. Mas muitas vezes penso que sou apenas utópico.

E as atuais situações, fazem ainda mais com que eu tenda a perder minha fé. Confesso que fico assustado com as reações que o “caso Joelma” tem despertado nas pessoas. 

Tenho lido/visto/ouvido muitas coisas que me fazem crer que as pessoas não tem noção das coisas que soltam pelos ares, pelas redes sociais, pelos corredores, nos transportes públicos, em todos os lugares. 

É obvio que o que a cantora falou, foi uma barbaridade. Mas não adianta ficar propagando por aí que a Joelma faz música ruim, que droga é a música do Calypso, que ela é brega, que a Joelma isso, que a Joelma aquilo... Eu entendo que no calor dos momentos, com ânimos exaltados, podemos falar coisas sem pensar e talvez revelar pequenos detalhes que o que realmente queremos é esconder. Do mundo e de nós mesmos.

Atitudes assim nada mais são do que a reprodução do pensamento elitista que assola nosso querido e miscigenado país, onde o que eu gosto é bom, é culto, é chique é importante. O que é diferente do meu gosto pessoal é lixo, é pobre, é coisa de gente burra e sem estudo. Isso, nada mais é do que intolerância. 

Sim queridos amigos! Exatamente o mesmo motivo pelo qual todos tem criticado a pobre Joelma. Então, não adianta nada atacar a mulher, se valendo das mesmas armas que ela. Ou será que a história do “chumbo trocado não dói” é verdade? 

Ok, vamos criticar a postura homofóbica e preconceituosa dela, mas não vamos falar que a música dela é lixo, só porque não gostamos. Intolerância é sempre intolerância. Seja ela da cantora/pessoa física contra os gays, mas também da “classe média/alta culta e esclarecida” contra a cantora de música popular.


Pra começar - A origem

Pra começar alguma coisa, é sempre bom irmos para o início. Por que eu decidi abrir esse blog? Por um motivo bem simples. Eu percebi que minhas vagas reflexões estavam tomando uma proporção grande demais (em termos de tamanho mesmo...) e meus desabafos estavam ficando meio exagerados para virarem postagens do Facebook.

Então, graças à liberdade internética, que permite que qualquer Zé Mané, como eu, possa abrir um blog pra falar qualquer bobagem, cá estou eu.

Eu, sinceramente, duvido que o blog terá muitos leitores. Duvido até que ele tenha algum leitor. Ele vai ser mais para mim mesmo. Uma egotrip reflexiva, de um cara que quer falar sobre o que lhe passa na cabeça, e ao invés de alugar os ouvidos dos amigos com bobagens, decidiu jogar tudo na rede mundial de computadores, que é um território sem dono. Um diário virtual, cheio de divagações que talvez só façam sentido pra mim. 

Mas todos que quiserem saber o que passa na cabeça dessa criatura estranha que vos fala, serão muito bem vindos!

E também, se quiserem comentar, fiquem a vontade, afinal estamos no espaço onde todos tem voz. Mas como a Casa é minha, me reservo o direito de ser despótico, e deixar só o que me agrada...rsrs

Agora a Casa do Raio está aberta e todos são convidados a entrar e se sentir à vontade!

Que Exu abra os caminhos das mentes e dos passos!
Laroiê!
Guardião que peguei emprestado
do Jorge Amado

Vale lembrar que se alguém se interessar pela faceta jornalista desse que vos fala, o outro blog (um pouquinho mais sério) também está com as portas abertas:

http://felipecandido.blogspot.com

Um beijo a todos e divirtam-se (ou não)!
Felipe Candido