Papa Francisco em sua visita ao Brasil |
Hoje o dia acordou ensolarado, mais quente que os anteriores e cheio de alegria. E a timeline das minhas redes sociais acordou, celestial, podemos dizer assim. Cheias de fotos e imagens do papa Francisco, e grande alarde por causa da entrevista que ele concedeu em seu trajeto de volta a Roma, após sua estadia de uma semana em terras tupiniquins para os eventos da JMJ.
E todos e todas que estavam exaltando a figura do sumo pontífice se regozijavam, particularmente, com uma determinada frase: "Se uma pessoa é gay e busca Deus, quem sou eu para julgá-la?", disse o santo papa.
Ponto para ele! E dá-lhe compartilhamentos da entrevista bombástica por todos. E são todos mesmo: gays, héteros, católicos, cristãos, não cristãos, ateus... Todos felizes com o posicionamento do velho Chico, e esperançosos que a Igreja Católica assuma uma postura mais aberta com relação à diversidade sexual e seja o ponto de partida para outros assuntos tão polêmicos quanto esse. Eu particularmente duvido muito, mas quem sabe, não é?
Mas o que eu realmente me perguntei nessa manhã de segunda foi: Por que as pessoas precisam dessa “aceitação” do papa? O senhor Francisco é um velhinho carismático (tudo que seu antecessor não era...), cheio de energia, muito simpático, etc e tal. Mas é o grande líder político e espiritual de um determinado segmento religioso. E que nem é mais a maioria esmagadora do Brasil. E certamente não é da maioria das pessoas que compartilharam o posicionamento “revolucionário” do papa. Pelo menos os que estavam na minha timeline. Então pra que essa comemoração exagerada de que ele não pode julgar gays? É claro que ele não pode! A meu ver, nem Deus pode julgar um gay por ele ser gay, afinal foi o próprio Deus que criou o homossexual como tal. Sem falar que me soa implícito que em tal declaração está liberado o julgamento daqueles outros muitos gays que "não aceitam" Deus de coração. Pelo menos não aquele Deus judaico-cristão que está nos domínios do sumo sacerdote.
Aliás, em minha opinião, a declaração nem é tão revolucionária assim... A Igreja sempre foi “politicamente correta” em não condenar a pessoa, e sim seus atos. Afinal, mais vale uma ovelha pecadora do que nenhuma ovelha, não é? E ouvimos o mesmo velho, ultrapassado e mofado discurso que temos visto com freqüência na boca de outros líderes religiosos aqui no Brasil, que propagam por ai que “amam os pecadores e não seus pecados”, e que querem curar os que caem na tentação pecaminosa.
E esse discurso de não julgamento vindo da boca do maior nome da Igreja Católica, não me soa uma verdadeira aceitação. Parece-me piedoso. E me desculpe o santo papa, por mais simpático que ele seja (e eu realmente, do fundo do meu coraçãozinho de gelo, acho o senhor Jorge/Francisco muito simpático) não quero a misericórdia e piedade dele. Nem a de ninguém. O que eu e todas as pessoas do mundo precisamos é de respeito, independente de qualquer coisa.
Desmond Tutu |
Piedade, dó, são dois terríveis sentimentos. É deixar rebaixado à inferioridade alguns que deveriam ser iguais. É até cruel sentir dó de alguém. É arrogante. E foi isso que o papa demonstrou em sua entrevista no caminho de volta. É ver os gays como coitadinhos, que são errados, nasceram tortos, mas que são aceitos dentro da vida santa, desde que abandonem sua vida de pecado. Sejam, mas não vivam! Você pode ser gay, desde que não pratique isso. Aí sim, pode entrar no reino de Deus.
Nesse ponto, estou mais de acordo com outro religioso que andou soltando o verbo por esses dias. Como disse o ex-arcebispo da Igreja Anglicana da Cidade do Cabo, Desmond Tutu, “prefiro o inferno a um paraíso homofóbico”. Ou que seja falsamente tolerante, eu complementaria.
Nesse ponto, estou mais de acordo com outro religioso que andou soltando o verbo por esses dias. Como disse o ex-arcebispo da Igreja Anglicana da Cidade do Cabo, Desmond Tutu, “prefiro o inferno a um paraíso homofóbico”. Ou que seja falsamente tolerante, eu complementaria.