Cada vez mais tenho preguiça de entrar no facebook. E isso acontece porque cada vez que abro minha timeline sinto o cheiro enjoativo da gordura usada para fritar as coxinhas que cada vez mais bradam seus insultos e "revoltas".
Discordâncias políticas e discussões são sempre bem-vindas. Mas o problema é que essa pseudo-elite que tem urrado nos últimos tempos, carrega em seu discurso um rancor, um recalque, um ódio cego e sem sentido.
Pessoas que descarregam sua raiva contra os metroviários em sua (legítima) greve afirmando "Tem que demitir mesmo esses vagabundos", de dentro de seus carros com ar condicionado, sem conhecer a real situação daqueles trabalhadores que levam nas costas um aparelho sucateado, sem nenhum tipo de conforto à população. Pessoas que aplaudem de pé as ofensas proferidas à presidente (feita por uma elite rica, branca, e que só estava lá, curtindo a Copa por conta dos esforços, trabalho e morte de pessoas pobres, que não puderem nem chegar perto do estádio no dia, local que - olha só, que irônico - é a periferia dessa cidade, onde muitas dessas pessoas que tanto trabalharam pra esse evento acontecer, devem morar), acreditando que isso seja uma forma legítima de manifestação, mas que não passa de falta de educação. Pessoas que cobram da presidente coisas como saúde, educação, transporte de qualidade, mas que não se dão ao trabalho de pesquisar quais são as reais atribuições das instâncias federal, estadual e municipal do governo. Pessoas que bradam, com baba de ódio nas bocas "Queremos Educação!", mas que quando professores fazem manifestações e greves em busca de melhores condições de trabalho, chamam os manifestantes de vagabundos e reclamam que eles estão atrapalhando o trânsito... Por que mandar a presidente tomar no c*, enquanto a USP, referência mundial no ensino está quebrada por mau uso da verba recebida, administrada pelo governo estadual (do PSDB)? Que tal também mandar nosso governador tomar alguma coisa, em algum lugar? Não... ninguém merece ser ofendido nesse nível tão baixo...
Essas pessoas fazem parte dessa "elite classe média", que tem acesso à educação e saúde privadas, se dizem indignadas com a atual situação do país, mas nunca devem ter se dado o trabalho de saber como é a situação dos pobres, se ela melhorou ou piorou, que pisaram pela primeira vez na periferia para assistir o jogo de abertura da Copa, pagando quase mil reais num ingresso, e postando selfies nas redes sociais durante o percurso "exótico" do trem ou da linha vermelha do metrô. Esquecem (ou preferem nem saber) que milhares e milhares de pessoas passam por aquilo todos os dias, gastando horas num trem apertado e sem conforto.
Será que alguém já se deu o trabalho de perguntar para a empregada da casa como está a vida dela? Como ela se sente de ver o filho poder entrar na faculdade graças ao ProUni?
Acho sim que existem muitas falhas no governo Dilma, mas não acho que xinga-la num momento de raiva descontrolada seja algo positivo para a democracia. Pessoas que fazem oposição de maneira legítima e buscam, de verdade, tentar melhorar a situação do país, não caem na armadilha fácil da ofensa pessoal, da baixaria. E essas pessoas, são justamente chamados de "baderneiros" e "vagabundos" por aquelas pessoas que acharam bonito mandar a chefe de Estado, legitimamente eleita pelo povo, tomar no c*.
E além de ser representante máxima do nosso país, cabe lembrar que Dilma é, antes de tudo, mulher, mãe, avó. E a atitude de insulta-la daquela forma, só reafirma mais uma premissa dessa nossa classe média: Ela é machista. Pois se soa natural ofender uma mulher para o mundo todo ouvir, é porque eles acreditam que a mulher não merece respeito. Eu fiquei horrorizado com aquilo, como ficaria se alguém mandasse tomar no c* minha mãe, minha avó, ou qualquer outra mulher próxima a mim. Ou qualquer outra mulher.
A presidente e todas as pessoas rechaçadas por essa elite tem minha solidariedade, independente de concordar ou não com a maneira que conduzem as suas obrigações. E eu me solidarizo pelo simples fato de, apesar de serem constantemente atacados por esse coxinismo, continuam mantendo a dignidade, sem se render à baixaria da nossa gente "fina, culta e educada".