quarta-feira, 9 de abril de 2014

Sobre fãs exaltados e extremistas

Fãs terroristas existem desde que existe a arte
Já de alguns dias, eu tenho me perguntado, quase que constantemente: Existe coisa mais chata que fã? E eu explico meu questionamento.

Em primeiro lugar, queria deixar bem claro que não tenho absolutamente nada contra as pessoas que admiram artistas. Eu mesmo tenho meu carinho especial por alguns deles. Chico Buarque, Clara Nunes, Maria Bethânia, Kiko Dinucci, Guimarães Rosa, e alguns outros que o digam. O problema é quando a linha tênue que separa a admiração da obsessão é destroçada. É aí que o bicho pega!

Os fãs viram criaturas assustadoras, possuídas pelo ritmo Ragatanga, e se tornam seres cegos, como zumbis, que tem como única missão na Terra "defender a honra" de seus ídolos. E aí, como diria a musa Valesca Popozuda, "é só tiro, porrada e bomba". Nesse caso, é melhor sair da frente e salvem-se quem puder. 

E a nossa amada internet, essa terra de ninguém, esse universo paralelo em que paira a impunidade e que cada um pode falar o que bem entende (olha eu aqui reclamando... O que seria de minhas chatices sem a internet?) é apropriada por essa horda de fãs terroristas, que a usam como instrumento para cumprir sua missão dada por algum tipo de força superior dominadora de mentes.

Primeiro eles começam mansinhos, tomando as redes sociais de forma "inofensiva". Hoje mesmo, eu que sou "amigo" de uma famosa cantora da MPB no Facebook, vi minha timeline invadida por diversas montagens de gosto duvidoso de fotos dessa cantora com seus fãs, e em todas a pobre cantora foi marcada. Por mais que eu rolasse a página pra baixo, nada mais aparecia além das terríveis imagens de "bom dia", "feliz aniversário" (dos fãs) e outras coisas do tipo. Se eu me senti incomodado com isso, imagina a coitada da cantora.

Mas, chega um momento em que os ânimos se exaltam, e se alguém ousa mencionar uma vírgula que seja contra o amado ídolo, essa pessoa que se prepare, que lá vem um bombardeio de insultos. E esses xingamentos, são os mais baixos possíveis. Ontem mesmo, eu fiz um simples comentário na foto de uma famosa cantora no Instagram, que os fãs só faltaram chamar minha mãe de santa. Um deles, inclusive, foi xeretar meu perfil, para encontrar munição para me atacar. E não é que o garotinho era evangélico? Quando viu minhas fotos, o que ele deduziu? Que eu o próprio Satanás na Terra! Pronto! Era esse o motivo pelo qual eu estava criticando a tal cantora: Ela é "de Deus" e eu, enquanto endemoniado não podia aceitar aquela alma de luz, então precisava atacar. Ele também falou que eu estava querendo aparecer em jornais, e por isso estava fazendo tais críticas... Detalhe fundamental: Apesar da crítica, eu adoro a tal cantora.
Á lá, eu querendo aparecer em jornais... que coisa feia!
Daí, outro questionamento surge na minha cabeça: O que realmente motiva uma pessoa se cegar a ponto de atacar tão brutalmente (mesmo que no campo virtual) uma pessoa que ela nem conhece, que nunca viu e nunca vai ver na vida, em prol da defesa de alguém que ela também não conhece, que nem sabe que seu "defensor" existe. 

Até que ponto nossas vidas estão tão esvaziadas e consumidas pela loucura da vida contemporânea, que precisamos buscar conforto na falsa proximidade com quem gostaríamos de ser? Por que nossas vidas são tão insignificantes, que precisamos tentar viver a vida do outro, o que tem fama, glamour, dinheiro, e eu me abstenho de meus próprios anseios pra defender o inatingível. E podemos pensar também, que esses ídolos não precisam de defesa, né? Eles já são bem grandinhos, e se não podem ouvir críticas, é melhor mudar de profissão. Se bem que todos nós, independente do que fazemos e nossas vidas em algum momento ou outro iremos ouvir algum tipo de crítica. É triste isso essa fuga da realidade, não é? Acho que a minha questão lá do começo pode ser mudada de "existe coisa mais chata que fã" para "existe coisa mais triste do que pessoas que querem viver a vida do outro?".

Enquanto isso as louças sujas se acumulam pelas pias por ai...

E agora chega de blá-blá-blá, que na minha pia também tem louça suja pra lavar.